Lewis
era muito modesto em relação à vida devocional. Ele gostava de dizer:
"Não sou como os místicos, aqueles que sobem a montanha para orar. Sou
alguém que está no sopé da montanha. Eu não estou muito alto, nem lá
embaixo. Vivo no meio da montanha, como um cristão normal". Lewis achava
que a submissão à vontade de Deus é mais importante do que fazer
grandes façanhas na oração. Ele aconselhava: "Não seja dramático em sua
vida de oração". Ele meditava e orava ao redor do parque, depois de dar
suas aulas na universidade. Também delineou a força de atração do que
chamava de "doce desejo e alegria", a saber, o sabor da presença de Deus
na vida diária, que atinge o coração como se fosse um golpe, quando a
pessoa experimenta e desfruta das coisas, revelando-se, em última
análise, com um anelo não satisfeito por quaisquer realidades ou
relacionamentos criados, mas amenizado somente na entrega de si mesmo,
no amor do Criador, em Cristo.
Conforme
Lewis sabia, diferentes estímulos disparam esse desejo em diferentes
pessoas. Quanto a si mesmo ele falava sobre "o cheiro de uma fogueira, o
sonido de patos selvagens que passam voando baixo, o título de The Well
at the World's End, as linhas iniciais de Kubla Khan, as teias de
aranha de fim de verão, o ruído das ondas na praia". Ao lado de diversos
escritores do passado, que tinham um discernimento muito mais profundo
sobre essas questões que as pessoas de hoje, Lewis via o amor a Deus nos
elevando até Deus, enquanto o contemplamos e o desejamos por Ele, em
lugar de arrastar Deus para baixo, em nosso nível, como muiros hoje em
dia tendem a fazer.
James Houston, que conviveu com Lewis de 1947 a 1952, re¬gistrou a impressão que tinha sobte ele:
Gostava
muito de estar num ambiente onde havia controvérsia e discussão. Era
tão perspicaz e cheio de humor que nos deixava receosos de nos aproximar
dele. Mas, na verdade, Lewis era muito tímido e discreto com sua
própria vida emocional. [Ele] tinha um par de sapatos marrom, uma calça
de veludo marrom e uma jaqueta marrom que usou por uns quinze anos. A
jaqueta estava sempre amarrotada na altura do colarinho.
Ele
era um cristão praticante, que orava, paciente e persistentemente,
fazendo o bem. Não era um teólogo profissional, mas era, em suas
palavras, "apenas um cristão comum, tentando pensar com clareza", que
buscava evitar as disputas entre as diferentes igrejas, por crer que
Deus o colocara na linha de frente, onde o cristianismo enfrenta o
mundo, e não por trás delas, onde uma guerra civil assola os cristãos.
Sua tarefa era a de defender o cristianismo puro e simples, e não
qualquer igreja em particular, demonstrando a superioridade racional do
cristianismo sobre todo e qualquer entendimento da realidade.
Segundo Russell Shedd:
A
originalidade de seu pensamento, o incomparável progresso de sua lógica
e a criatividade de suas idéias são como um banquete posto para
famintos. E difícil menosprezar esse gigante das letras, mesmo quando
não temos a capacidade de captar todas as nuanças da ampla compreensão
que ele tinha do cristianismo. [Mas] é possível sentir a paixão de um
coração voltado para Deus e preocupado com a transmissão das boas-novas
de salvação. Ele talentosamente comunica-se com homens que em parte
rejeitaram o evangelho por causa da simplicidade de evangelistas faltos
de profundidade.
Franklin Ferreira
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